quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Ele me perguntava se me lembrava dele, ele tinha um rosto comum, gostaria de não lembrar, mas ele era comum e eu sabia quem ele foi. Aquele “tia” já havia saído de lábios inocentes, do menino magrelo que corria no campo de futebol com grades enferrujadas do bairro, e driblava, e gingava, e sorria.
Tratou-me de Senhora, porque ali é assim que se fala de Senhor a Senhora, e não é por respeito, é só mais uma face da opressão.
Você já se sentiu oprimido?
Você já viu a violência?
A faca que sangra, a bala que estilhaça, ou, a boca que se manda calar?
A gente só imagina e já fica horrorizado com a notícia no jornal nacional, e ele só tinha doze anos...
Ele estava ali, apesar de todo discurso socioeducativo, ele estava ali, apesar de todas as cestas e cotas, o menino estava ali, apesar de todas as orações da vó, estava ali e me perguntava se me lembrava dele, eu lembrava, e vi que era mais um entre mais tantos.
E neste verão o calor está insuportável e muitos vão comprar um ar condicionado, e estão parcelando a viagem pra Europa afinal esta mais fácil viajar pra fora do país, e as pessoas não param de opinar sobre a copa, ele estava ali e eu me lembrava dele, do menino, daquele dos dribles e do sorriso banguelo.
A gente cansa, mas não é de correr, a gente cansa quando para, respira e vê.
Eu só queria falar do menino, de seus olhos de pedinte, suplicando que eu me lembre dele, mas como o menino que dribla. Pena a vida não ser uma bola, querido. Não tem volta, nem reviravolta. E Vamos tentando não perder a fé, há tantos credos e orações.
Ele vai ficar ali por mais um tempo, não muito, e na saída vamos ver o que resta do menino.

 E no final quem sobrevive? Quem se adapta melhor a esta vida? E quem  é que pede arrego?

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